Uma caminhada marcada pela teimosia (*)
Rogério Viana tem 57 anos, é jornalista e trabalha em Curitiba com marketing cultural e editorial. Passou parte da infância e adolescência na cidade de Paranavaí, interior paranaense, onde teve os primeiros contatos com a cultura japonesa - comida, dança, cinema, música. Ficava fascinado pelas belíssimas revistas japonesas e só não entendia como é que suas capas teimavam em ficar no final das mesmas. Aos poucos percebeu a razão da diferença. Aprendeu a gostar de manjú e viu como era difícil preparar aquele doce. Depois, no casamento de sua professora do segundo ano primário, aprendeu a gostar de sushi e sashimi.
Gostava de ouvir as ternas canções infantis japonesas e uma, em particular, ainda soa em sua memória... “o te, tê... sunai, dê...” Depois alguém lhe disse que aquela canção infantil tinha algo de mágico e misterioso. Dar as maõs, seguir em frente... Talvez uma versão nipônica de um certo flautista europeu que atraia crianças quando passava pelas aldeias tocando sua flauta mágica.
No então Cine Paranavaí, às quartas-feiras, gostava de assistir a filmes japoneses. Chegava a encarar até dois filmes por sessão. Via tudo tão sofrido, tão distante e tão bonito. Chegou a assistir, no clube dos japoneses em frente ao colégio onde estudava, sessões de declamação de poesias, de música e de dança. Não percebera, na época, o que poderia ser haikai.
Aos 45 anos, em São Paulo, compra o livro VIDA, de Paulo Leminski e encanta-se
com a biografia de Matsuo Bashô. Tempos depois, ensaia pretensos haikais.
Depois, junta algumas poesias e uns haikais - capengas, por sinal, e publica o livro TRINTA TOQUES. Em 2002, vê alguns de seus haikais publicados em sites. Anima-se a escrever mais. Mas passa a escrever contos, depois atreve-se a escrever um roteiro de cinema, mais tarde, enfrenta um texto de teatro e junta outros poemas e surgem novos haikais.
Em 2005 ouve, pela primeira vez, o termo haiga. José Marins, grande haicaísta paranaense e, em seguida, Rosa Clement, lá da região amazônica, dão dicas e surgem seus primeiros haigas. Graças, também, a uma pequena câmara digital, que lhe chega às mãos. Fotos, haikais...
Era mesmo inevitável não produzir muitos haigas. Surgiram as primeiras críticas. Rogério teima em afirmar que foto com haikai é um haiga. Algumas pessoas dizem que não, mas, teimoso, segue seu caminho e, meses depois, vê um de seus haigas ser premiado num concurso internacional. Sabem onde? Sabem? Sim, lá no Japão. Vê, então, que aquilo que fazia tinha cara de haiga, poderia
ser haiga. Recebe o incentivo de Rosa Clement, novamente, que traduz para o inglês alguns de seus haigas. Num fórum internacional de discussão de haigas, com norte-americanos, canadenses, ingleses, eslovenos, croatas, japoneses, poucos brasileiros, italianos, filipinos, australianos e alemães, dentre outros, vê que a temática brasileira - nossa flora, fauna, traços urbanos, gente, objetos, frutas, atrai os olhos de grandes autores de haigas e, então, vê, novamente, quatro de seus haigas serem premiados pelo WHA Haiga Contest - World Haiku Association.
Produz mais, insiste para que vejam seu trabalho e decide juntar alguns da sua centenária coleção nesta exposição que é fruto de sua teimosia e uma certa dose da mais absoluta cara-de-pau. Então, os trabalhos estão aí. E uma centena de outros estão prontos para ganharem novos rumos desta caminhada. E do Edson Kenji Iuri veio a lição dada pelo mestre Matsuo Bashô :
“Não siga os antigos. Procure o que eles procuravam”.
Rogério Viana, o autor deste texto, das fotos e haikais desta exposição, continua sua procura.
O catálogo completo da exposiçãode haigas de Rogério Viana está neste link e pode ser baixado
http://recantodasletras.uol.com.br/e-livros/143271
Rogério Viana tem 57 anos, é jornalista e trabalha em Curitiba com marketing cultural e editorial. Passou parte da infância e adolescência na cidade de Paranavaí, interior paranaense, onde teve os primeiros contatos com a cultura japonesa - comida, dança, cinema, música. Ficava fascinado pelas belíssimas revistas japonesas e só não entendia como é que suas capas teimavam em ficar no final das mesmas. Aos poucos percebeu a razão da diferença. Aprendeu a gostar de manjú e viu como era difícil preparar aquele doce. Depois, no casamento de sua professora do segundo ano primário, aprendeu a gostar de sushi e sashimi.
Gostava de ouvir as ternas canções infantis japonesas e uma, em particular, ainda soa em sua memória... “o te, tê... sunai, dê...” Depois alguém lhe disse que aquela canção infantil tinha algo de mágico e misterioso. Dar as maõs, seguir em frente... Talvez uma versão nipônica de um certo flautista europeu que atraia crianças quando passava pelas aldeias tocando sua flauta mágica.
No então Cine Paranavaí, às quartas-feiras, gostava de assistir a filmes japoneses. Chegava a encarar até dois filmes por sessão. Via tudo tão sofrido, tão distante e tão bonito. Chegou a assistir, no clube dos japoneses em frente ao colégio onde estudava, sessões de declamação de poesias, de música e de dança. Não percebera, na época, o que poderia ser haikai.
Aos 45 anos, em São Paulo, compra o livro VIDA, de Paulo Leminski e encanta-se
com a biografia de Matsuo Bashô. Tempos depois, ensaia pretensos haikais.
Depois, junta algumas poesias e uns haikais - capengas, por sinal, e publica o livro TRINTA TOQUES. Em 2002, vê alguns de seus haikais publicados em sites. Anima-se a escrever mais. Mas passa a escrever contos, depois atreve-se a escrever um roteiro de cinema, mais tarde, enfrenta um texto de teatro e junta outros poemas e surgem novos haikais.
Em 2005 ouve, pela primeira vez, o termo haiga. José Marins, grande haicaísta paranaense e, em seguida, Rosa Clement, lá da região amazônica, dão dicas e surgem seus primeiros haigas. Graças, também, a uma pequena câmara digital, que lhe chega às mãos. Fotos, haikais...
Era mesmo inevitável não produzir muitos haigas. Surgiram as primeiras críticas. Rogério teima em afirmar que foto com haikai é um haiga. Algumas pessoas dizem que não, mas, teimoso, segue seu caminho e, meses depois, vê um de seus haigas ser premiado num concurso internacional. Sabem onde? Sabem? Sim, lá no Japão. Vê, então, que aquilo que fazia tinha cara de haiga, poderia
ser haiga. Recebe o incentivo de Rosa Clement, novamente, que traduz para o inglês alguns de seus haigas. Num fórum internacional de discussão de haigas, com norte-americanos, canadenses, ingleses, eslovenos, croatas, japoneses, poucos brasileiros, italianos, filipinos, australianos e alemães, dentre outros, vê que a temática brasileira - nossa flora, fauna, traços urbanos, gente, objetos, frutas, atrai os olhos de grandes autores de haigas e, então, vê, novamente, quatro de seus haigas serem premiados pelo WHA Haiga Contest - World Haiku Association.
Produz mais, insiste para que vejam seu trabalho e decide juntar alguns da sua centenária coleção nesta exposição que é fruto de sua teimosia e uma certa dose da mais absoluta cara-de-pau. Então, os trabalhos estão aí. E uma centena de outros estão prontos para ganharem novos rumos desta caminhada. E do Edson Kenji Iuri veio a lição dada pelo mestre Matsuo Bashô :
“Não siga os antigos. Procure o que eles procuravam”.
Rogério Viana, o autor deste texto, das fotos e haikais desta exposição, continua sua procura.
O catálogo completo da exposiçãode haigas de Rogério Viana está neste link e pode ser baixado
http://recantodasletras.uol.com.br/e-livros/143271
(*) Texto extraído do Catálogo da Exposição de Haigas de Rogério Viana. Referida exposição de haigas foi realizada em 2006 no Centro de Cultura Casa do Japão, em Curitiba - PR.
** O texto e os haigas aqui exibidos foram expressamente autorizados por Rogério Viana para publicação - todos os direitos reservados **
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